A pandemia de COVID-19 mexe também com os projetos de smart cities. As cidades-inteligentes, que necessitam de grandes volumes de investimento, e que às vezes são planejadas dentro de conceitos que se tornam inviáveis quando confrontados com a realidade, dão lugar a experiências mais simples, como os bairros-inteligentes. Haja vista o que aconteceu com a Quayside, que seria construída na orla de Toronto-Canadá. A cidade-inteligente, que teria a Google como investidor, foi cancelada.
Para a doutora e consultora em cidades-inteligentes pela PUC-SP, Stella Hiroki, a pandemia transformou o pedestre em prioridade. Com isso, cresce exponencialmente entre os urbanistas o conceito de “cidades de 15 minutos”, ou seja, quase tudo que envolve o dia a dia do cidadão deve estar a uma caminhada com duração de 15 minutos de sua residência. “Como as aglomerações e os grandes deslocamentos em transportes urbanos podem propagar o vírus, o pedestrianismo virou protagonista”, diz.
Stella Hiroki participou recentemente do webinar “Smart Cities: desafios e prospecções para o futuro da construção com a tecnologia”, promovido pela ConcreteShow, e destacou que mais um item foi acrescentado aos conceitos de smart cities e bairros-inteligentes, após a pandemia. Trata-se da segurança da saúde (health security). “Se antes mobilidade, meio ambiente, pessoas, economia, governança e moradia eram premissas que definiam o que é cidade-inteligente, agora a saúde também ganhou relevância”, acrescenta.
A constatação é confirmada pelo médico-sanitarista Chris Gibbons, um dos precursores do conceito de health security para cidades e bairros-inteligentes. Ele começou a propagar o termo na Universidade do Alabama-EUA, onde atua. “A maioria das cidades inteligentes concentrava-se em infraestrutura, transporte, iluminação urbana e outros serviços do governo municipal. Não havia foco explícito na saúde. O que busco é construir comunidades inteligentes com foco explícito na saúde, sendo esse o foco central dos conceitos de cidade e bairro-inteligente”, revela.
Brasília e Foz do Iguaçu vão ganhar bairros-inteligentes na pós-pandemia
No Brasil, serão viabilizados dois projetos de bairros-inteligentes na pós-pandemia, e que prometem abranger da tecnologia à saúde. Em Brasília, será construído o BIOTIC, que busca unir inovação tecnológica com valorização do pedestre. Na mesma linha, em Foz do Iguaçu-PR, será construída a Vila A. O projeto é uma parceria entre Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Parque Tecnológico Itaipu (PTI), Itaipu Binacional e a prefeitura do município. A prioridade é dar autonomia digital e mobilidade aos frequentadores.
Já o bairro-inteligente de Brasília teve seu projeto concebido pelo arquiteto italiano Carlo Ratti. O BIOTIC vai ocupar uma área de 1 milhão de m2, no extremo da asa norte. O bairro-inteligente vai contrariar a proposta do Plano Piloto planejado pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em 1955, e que se sustentou em quatro pilares: residencial, monumental, gregário e bucólico. Sessenta anos depois de ser inaugurada, Brasília terá uma área com ruas estreitas, praças, calçadas para abrigar cafés e restaurantes, onde a prioridade é o pedestre.
Quanto ao projeto da Vila A, ele prioriza as startups. O bairro-inteligente busca testar soluções e intervenções tecnológicas que poderão ser monitoradas por meio de aplicativos customizados, os quais permitirão comunicação direta com os moradores. Inclui-se aí a telemedicina. “As tecnologias integrarão cidadãos e instituições. Segurança, saúde e inteligência artificial serão áreas muito beneficiadas”, afirma o presidente da ABDI, Igor Calvet. A construção da Vila A começa em outubro de 2020 e deve estar concluída no prazo de 3 anos.
Fonte: Cimento Itambé
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